A minha terra – notas para a sua história

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·        O foral manuelino
·        No monte das Santas
·        A propósito de vinho...

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Llamam por mi las fuentes y los rios,
Los prados y los bosques de mi tierra,
Todo valle me llama, toda sierra,
Por do gastè los tiernos anos mios.

(Diogo Bernardes, Rimas Várias Flores do Lima,
                        soneto LXIX)

O foral manuelino


A freguesia de Fornelos integrava-se na antiga Terra de Penela, que no século XIV se dividiu em dois territórios: Penela das Cabras e Penela de Albergaria. Quando se operou a reforma administrativa posta em marcha pelo regime liberal, no século XIX, Penela das Cabras foi incluída no novo concelho de Vila Verde. O território de Penela de Albergaria, na sua maior parte, foi integrado no de Ponte de Lima.
Tanto Penela das Cabras como Penela de Albergaria receberam, cada uma, um foral novo outorgado pelo rei D. Manuel I. Para a distinguir da outra Penela, e porque, desde 1497, era esse o seu donatário, Penela de Albergaria é então designada como Penela de D. João de Castro.
A freguesia de Fornelos pertencia a este concelho de Penela de Albergaria, que, nas suas origens, chegou a abranger quase todo o território localizado entre o rio Neiva, os montes de S. Veríssimo e da Nó e o Rio Lima. É mencionada, por conseguinte, no respectivo foral manuelino.
Para conhecer melhor este foral basta clicar no item seguinte:
Para comodidade dos leitores transcreve-se a parte relativa a Fornelos, a qual, a seu tempo, merecerá o respectivo comentário.


Foral de Penela [de D. João de Castro]

DOM MANVELPer graça de Deus Rey de Portugal e dos Algarves daqueem e da aleem mar em Africa e Senhor de Guine e da conquista e navegaçã e comercio de Etiopia, Arabia, Pe[r]sia e da India. A quantos esta nossa carta de forall  dado aa terra de Penella de Dom Joham de Castro pera sempre virem fazemos saber que per bem das semtenças determinaçooes jeraaes e espeçiaaes que foram dadas e feitas per nos e com os do nosso comselho e letrados acerca dos foraaes de nossos Regnos e dos direitos reaaes e trebutos que se per elles deviam d’arrecadar e paguar E assy pellas Inquiriçoes que primcipalmente mandamos tirar e fazer em todollos luguares de nossos Regnos e Senhorios justificadas prymeiro com as pessoas que os dictos direitosreaaes tinham, achamos vistas as Imquirições do Tombo que as rendas e direitos reaaes se devem hy d’arrecadar e paguar na forma seguyimte:

Posto que pella dita Imquiricã se mostrase os direitos da dita terra deverem se de paguar pollo nome das terras e trebuto dellas despois os Senhorios que forom dos ditos direitos de comsemtimento das pessoas obriguadas aos dictos foros composerã averem se de paguar os dictos direitos particularmente per pessoas a elles loguo obriguados na maneira e forma que adiamte yrã determinados:

[…]
Titollo de Fornellos
Item pelo cassal d’ Outido de pam meado quatro alqueires E huum maravidyll. Item  todos os que moram no Naquião[1] e Pousada[2] e Fornelos paguam gualinha e calaça e vynte <hũa> varas de braguall. Item todos os que moram em Paredella paguom cada huum sua gualinha cada huum anno ao dicto Senhorio. Item pellas cassas do tosador honze reaes. Item pello campo reguemguo que traz ho amo da Maya <vynte [reaes]>. Item pello campo das Vydes[3] que traz Gomçallo de Rebordelo em dynheiro cimcoemta reaes. Item pello campo da Mangade[4] de çemteo três alqueires e de milho dois alqueires. Item pella aldea d’ Esturaes[5] dozoito[6] alqueires de milho e de braguall sete varas[7]. E todos os moradores da dicta aldea d’Estudaaaes pagom gualinha e calaça ao dicto Senhor e mais sete soldos. Item pela aldea de Três Fomtão oito alqueires de milho e dois soldos. Item  pella aldea d’Aljariz ho gramde sete varas de braguall e mais seis framguaos e mais gualinha e calaça cada huum morador. Item pella aldea de Ryo Maao do moynho reguemguo três alqueires de milho e de braguall seis varas e mais cada huum sua gualinha e calaça que na dicta aldea morarem e morem. Item pella aldea de Aljaruiz ho pequeno de braguall três varas e mays três gualinhas e três calaças e se mais fossem[8] mais paguarã. Item pella aldea da Torre[9] gualinha e calaça. Item pella aldea de Baguande[10] sete varas de braguall e mais cada hũa sua gualinha e luitossas. Item pella aldea de Erminil quatro alqueires de milho e três soldos.

[…]
E alem dos foros sobre ditos que se paguam Nesta terra pellas particulares pessoas atras decraradas tanbeem teem a coroa real hy huum reguemguo honde chamam a Ribeira de Torvela[11] da aquem e da alem per suas divisoões antiguamente feitas de que se pagua o quimto a nos de todo paã vinho linho legumes E de quaesquer outras coussas que se lavram e semeam e de fruita nã pagua nem paguaram nada de quallquer sorte que for a fruta.

[Seguem-se vários artigos de natureza genérica]
Dada em a nossa muy nobre e sempre leall cidade de Lixboa a vymte dias do mês de Junho e anno do naçimemto de nosso Senhor Jhesus Christo de mill e quinhemtos e quatorze anños[12]. Vaay escripto em sete folhas sem esta mea. Comçertado per mym Fernam de Pyna.
[Assinatura:] el Rey
[Ao fundo:]
[Rubrica:] Rui Boto:

Foral pera o Concelho e terra de Penella.

Registado no tombo Fernã de Pyna

[Noutra letra:]
Aos XVI dias do mês d Outubro Anno de mill e VcXVI Anos per o bacharell Pero Vaaz corregedor com Allçada por elRei nosso Senhor nesta comarqua e correiçam d Antre Douro e Minho em a vyla de Ponte de Llyma ffoy dado este fforall e provicado este forall na presença  do juiz e vereadores e homens bõos do concelho de Penella e em presença de Joane Gonçalvez rendeiro de dom Joam de Crasto senhor da dita terra, e o dicto juiz e officiaes receberam este e pagarom per elle seiscentos reaes que he a ruvica em elle contheuda, e por verdade eu Joane Rebello escripvam esto escrepvi no sobre dicto dia e era, escripvom que o dicto screpvi e asiney[Assinatura:] J Rebelo


[1] Anquião.

[2] Pousada.

[3] Vide.

[4] Manguela?

[5] Identificação não conseguida para este e seguintes topónimos de Fornelos.

[6] Sic.

[7] Segue-se “de braguall” riscado.

[8] No Livro dos Forais Novos da Comarca de Entre Douro e Minho: “forem”.

[9] Torre.

[10] Identificação não conseguida para este e seguinte topónimo.

[11] Ribeiro deste nome, que nasce na Armada e desagua no Lima na freguesia de Correlhã.

[12] O texto seguinte está em caligrafia diferente.